Igreja
O que o futuro do Papa Francisco pode representar para evangélicos
Com a saúde debilitada, maior líder da igreja católica exerce grande influência em pautas que também são defendidas pelos evangélicos

A situação crítica de saúde do papa Francisco, 88 anos, internado desde 14 de fevereiro com pneumonia bilateral e infecção polimicrobiana, tem levado o mundo a refletir sobre o futuro não apenas do pontífice, mas da igreja católica. E ao contrário do que muita gente pensa, os rumos da maior igreja cristã do mundo têm, sim, impactos na comunidade evangélica.
“Em termos práticos, para a igreja evangélica, o papa não tem uma influência direta. Mas em termos políticos, sim, porque ele acaba sendo representante de um contingente muito grande de religiosos que estão em posições políticas, econômicas e estratégicas, e que acabam pautando alguma discussão dentro do mundo cristão, seja ele católico ou evangélico”, explica o professor e escritor Magno Paganelli, que é pós-Doutor e Doutor pela USP, Mestre em Ciências da Religião, e especialista no conflito Israel-Palestina e o Hamas.
A maior prova dessa interação com as outras religiões, segundo Paganelli, é porque o papa além de líder religioso, também é um chefe de Estado. “O papa é um chefe de Estado, então, há questões de conjunturas políticas e econômicas mais importantes até do que essa relação com outras religiões”, justifica.
O professor lembra ainda que o Vaticano possui secretarias de diálogo inter-religioso. “Há diálogo com luteranos, batistas, grupos pentecostais, anglicanos e outras religiões também. Eu mesmo participei de um fórum chamado ‘Fórum Latino-Americano de Pentecostalismo’, em que havia um representante do Vaticano presente. Ele teve voz, falou, foi ouvido, ouviu, foi interrogado, questionado nas questões que incomodam os pentecostais”, ressalta.
Paganelli ainda disse que o Vaticano trabalha com o projeto do Ecumenismo, destinado a união das igrejas. “O diálogo para o ecumenismo já existe, avança. Documentos têm sido produzidos para poder haver uma cooperação ecumênica. Lembrando que ecumenismo, diferente do que muitos evangélicos entendem, não é sincretismo. O ecumenismo é uma posição biblicamente defensável, inclusive pelos conservadores”, afirma.
Vale lembrar que em 2014, durante o Fórum Cristão Global, na Albânia, o papa Francisco utilizou as perseguições religiosas para comparar evangélicos e católicos e citou o ecumenismo.
“Em várias partes do mundo, o testemunho de Cristo, até o derramar do sangue, se tornou uma experiência compartilhada entre católicos, ortodoxos, anglicanos, protestantes, evangélicos e pentecostais. Isso é mais profundo e mais forte do que as diferenças que ainda separam as nossas igrejas e comunidades eclesiásticas. Vamos encarar essa verdade profunda como um chamado para perseverar em nosso caminho ecumênico”, enfatizou Francisco.
E 2023 ele tocou novamente no assunto, durante o XXVI Colóquio Ecumênico Paulino. “Há a coragem de superar as barreiras da desconfiança, que muitas vezes surgem quando somos chamados a encontrar o outro, e mais ainda quando o outro tem uma tradição diferente da minha. E depois há a profecia ecumênica, a da saudável ‘impaciência do Espírito’ à qual todos nós, cristãos, somos chamados, para que a jornada rumo à plenitude da unidade prossiga e o compromisso de testemunhar não diminua”, disse o papa.
Agenda defendida por Francisco divide opiniões
Para o doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e mestre em Relações Internacionais, Igor Sabino, apesar das pautas progressistas defendidas pelo papa Francisco, é inegável a atuação dele em agendas que também são defendidas pelos evangélicos, principalmente, em áreas de atuação de missionários cristãos e meio ambiente.
“O papa Francisco se mostrou um papa mais progressista em alguns aspectos, embora ainda mantenha a tradição da igreja em relação a temas como, por exemplo, o casamento homoafetivo. Também é conhecido por conta das suas falas pedindo pela paz, tanto na Guerra da Ucrânia como em relação aos conflitos no Oriente Médio. Tem uma postura mais pacifista diante dos conflitos internacionais, também trazendo à tona a questão da pauta do meio ambiente, do acolhimento aos imigrantes, aos refugiados”, explica Sabino.
O professor enfatiza que o fato do papa ser argentino, também fez com que o cristianismo saísse da esfera europeia e ganhasse força na América Latina. “O fato do papa ser argentino reflete uma mudança de perspectiva global. Antes, o cristianismo estava focado principalmente ali no Ocidente, na Europa, nos Estados Unidos. Hoje, o que a gente vê é um declínio do cristianismo nessas regiões e um fortalecimento do cristianismo no chamado sul global, tanto aqui na América Latina como na África e na Ásia”, afirma.
No entanto Sabino lembra que, historicamente, houve muito preconceito dos evangélicos com a figura do papa, porque muitos o viam como sendo um provável candidato ao anticristo. “Isso era comum desde a época da Reforma Protestante. Mas acho que em relação ao papa Francisco, em especial, sobretudo aqui no Brasil, houve uma resistência maior dos evangélicos a ele, justamente por ele ser visto como alguém mais progressista, mais liberal, mais de esquerda”, conclui.

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